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Um dos maiores espetáculos da Natureza está prestes a acontecer: a arribada ou chegada, em enormes levas, das tartarugas marinhas da espécie oliva nas praias da Costa Rica.
Um desses santuários ecológicos chama a atenção por cenas que beiram as raias do surrealismo – clique na imagem acima e sinta o “clima” –, pelo menos para a nossa escassa compreensão de um fenômeno dessa magnitude.
Para se ter uma ideia da grandiosidade do evento, que se estende do final de agosto até outubro, na orla marítima do Refúgio Nacional de Vida Silvestre de Ostional já se aproxima a primeira e enorme frota de 500 mil fêmeas para dar início ao processo de reprodução. Somadas a outros grandes grupos, poderão totalizar a desova de inacreditáveis 1 bilhão 600 milhões de ovos.
Não é à toa que a praia de Ostional, com apenas 7 km de extensão, é considerada o maior berçário do mundo para a conservação da Lepidochelys olivacea.
Quando as frágeis tartarugas aportarem, serão devidamente recepcionadas nas areias pelos moradores da comunidade local, que se preparam com ansiedade para este momento.
Todavia, ao contrário do que podem fazer supor estas imagens fora do seu real contexto, o recolhimento de menos de 1% dos ovos pelos habitantes locais significa, na realidade, um dos maiores esforços já empreendidos para a preservação da espécie, com o devido apoio e reconhecimento de organismos científicos internacionais e entidades de defesa ambiental, como o combativo Greenpeace, entre outros.
O próprio Projeto Tamar, aqui no Brasil, endossa a iniciativa costarriquenha.
O que se observa no mundo digital, no entanto, é uma frenética troca de e-mails que, desde o final do ano passado, tem inundado ininterruptamente as caixas de correio eletrônico referindo-se a esta ação coletiva como sendo um “crime hediondo contra a vida marinha”.
Com certeza o hoax foi criado por algum degenerado, sabe-se lá onde e com que intenções difamatórias, e já deu várias voltas pelo mundo em todos os idiomas — sendo sistematicamente repassado com a cumplicidade dos inocentes úteis ou gente mal-intencionada, o que dá no mesmo.
Aqui no Brasil, possivelmente devido ao início da campanha eleitoral, o boato voltou a ganhar força nos últimos dias e desembocou em dezenas de blogs que não mantêm qualquer compromisso com a verdade e que muito menos respeitam a inteligência de seus leitores.
Começando pelo pretenso “ataque aos ninhos das tartarugas na Costa Rica”, o embuste virtual transmutou-se em “roubo de ovos na margem esquerda do rio Solimões” e, por fim, com um grande culpado consubstanciando-se na atualidade, na figura emblemática do MST – o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
Não bastasse o absurdo de se confundir o paraíso dos surfistas (acima) com as plácidas águas do Solimões (abaixo), agora essa de implicar logo com o MST. O que uma coisa tem a ver com a outra? Pior, sem que qualquer prova factual ou imagem real tenha sido apresentada.
Porém uma rápida busca na Internet é suficiente para esclarecer parte do mistério e apontar alguns envolvidos na ação insidiosa. Blogs e sites com viés nitidamente direitista têm sido os propagadores dessa onda de boatos. Pode-se incluir na lista negra alguns voltados à “defesa do meio-ambiente”, o que significa dizer que inauguraram em definitivo a era do greenwashing virtual.
Mas um dos maiores responsáveis pode ter sido o deputado federal Raul Jungmann, do PPS pernambucano, que manteve em seu site durante meses a estória fantasiosa, mesmo tendo sido alertado inúmeras vezes por seus comentaristas. Sem que se importasse com isso.
Jungmann, afinal, pontificou como supremo ministro da Reforma Agrária justamente no período em que o governo FHC assumiu uma política radical de criminalização contra o MST, com o apoio ostensivo do Judiciário e da imprensa conservadora. Apenas coincidência?
Quem desmontou a farsa foi o blog Cachaça Araci, com posts que acabaram por pautar a velha mídia. Somente depois que o portal das organizações Globo fez a repercussão do caso é que o deputado correu para retirar as acusações de seu site. Mas era tarde, o estrago já estava feito.
O assunto, de todas as formas, é tão fascinante que, por toda a sua dimensão, será necessário elaborar uma série de posts para que possa ser esgotado e devidamente compreendido. E o hoax finalmente neutralizado.
Este é apenas o primeiro. Material há com fartura na rede para ser traduzido, ordenado e posteriormente divulgado.
Se não para interromper a boataria promovida por meia dúzia de pessoas irresponsáveis e impulsionada com a ajuda de milhares de internautas inconsequentes (que não medem nem avaliam as consequências de suas atitudes), pelo menos para se fazer justiça ao admirável esforço de uma pequena comunidade costarriquenha.
São pessoas que, certamente, não merecem passar pelo processo difamatório ora em curso na Internet. Pelo contrário, devem ser reconhecidas mundialmente e ter divulgadas suas ações sustentáveis em defesa das tartarugas marinhas que compartilham as areias de suas praias no espetáculo da procriação e preservação da vida.
Porque é disso que se trata.
Clique nas imagens para ampliar e não deixe de visitar a galeria completa de imagens do jornal Al Dia, da Costa Rica.
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