EDITORIAL
Recrudesce o novo escândalo protagonizado por Antonio Palocci. Surgem novas e graves acusações. A síndrome do caso fere o governo, por insistir em manter o ministro no cargo e tentar impedir investigações. O Congresso também está submetido a desgaste por não ter conseguido, até agora, aprovar a convocação do acusado para prestar esclarecimentos. O episódio envergonha o país.
A situação de Antonio Palocci se complicou. No momento em que o Palácio do Planalto faz de tudo para abafar a repercussão sobre o veloz enriquecimento desse ministro, surge uma informação que aumenta os danos à sua imagem. A Caixa Econômica Federal informou à Justiça Federal que o responsável pela violação dos dados bancários do caseiro Francenildo dos Santos Costa é o atual chefe da Casa Civil da Presidência da República. A acusação tem como base o que foi apurado em inquérito da Polícia Federal.
Em setembro de 2010, a Caixa foi condenada pela Justiça a pagar indenização de R$ 500 mil ao caseiro pela quebra do sigilo. E recorreu. Na apelação, o banco estatal informou que Palocci foi responsável pela invasão ao sigilo bancário de Francenildo (testemunha da CPI dos Bingos que havia desmentido afirmações do ministro). Não se trata apenas de uma informação a mais no escândalo que motivou o afastamento do então comandante da Fazenda do governo Lula. Pode ser uma porta aberta à ação judicial. Em 2009, por 5 votos a 4, os ministros do Supremo Tribunal Federal rejeitaram a abertura de processo contra Palocci, por falta de provas de sua participação na violação. Agora elas existem.
Também pioraram as avaliações sobre o comportamento político do governo Dilma e sobre o procedimento de certo número de parlamentares na Câmara dos Deputados. É que surgiu uma inusitada barganha para blindar o ministro. A presidente Dilma Rousseff determinou ontem a suspensão do material de combate à homofobia que estava sendo elaborado pelo Ministério da Educação para distribuição nas escolas. Em troca, o grupo de deputados contrários a esse polêmico kit (três vídeos e um guia de orientação aos professores) promete se articular para poupar Palocci de ir ao Parlamento explicar a origem de sua súbita acumulação de fortuna. Uma grande demonstração do vale-tudo na política, e que causa perplexidade geral.
Mas os parlamentares não governistas insistem em furar a blindagem ao chefe da Casa Civil. No dia de ontem surgiram na Câmara documentos que colocariam sob suspeita pagamentos efetuados pela Delegacia da Receita Federal em São Paulo a uma das empresas que contratou serviços da consultoria do ministro. Trata-se de uma construtora que recebeu da Receita em 6 de outubro de 2010 mais de R$ 9 milhões a título de devolução de saldo negativo de Imposto de Renda, 44 dias após entrar com pedido. O valor foi liberado em dois pagamentos emitidos com diferença de quatro minutos.
A Procuradoria-Geral da República está investigando o escandaloso enriquecimento de Palocci. Resta esperar a conclusão. Por enquanto, essa é uma das poucas esperanças de resultado adequado para o caso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário