Meus respeitos à família do José Alencar. Meus respeitos aos seus fãs. Mas façam-me
o favor de não exaltar exemplos que não possam ser seguidos por qualquer um que
não seja poderoso”
Morreu ontem o ex-vice-presidente José Alencar, aos 79 anos. Meus respeitos.
do governo Lula, especialmente quanto mais frequentava hospitais, o ex-vice foi
ganhando outra
imagem pública.
Assistindo aos telejornais e lendo o noticiário na web e em outros lugares, você vai ler
uma litania de elogios à sua vontade de viver. À sua força na luta contra o câncer. Até em
heroísmo vão falar. Realmente, é fofo ver um velhinho saindo do hospital e
exemplo muito difícil de seguir.
Pelo Sistema Único de Saúde, como lembrou a Leandra Lima, ele já estaria morto
há muito tempo. Marcar uma consulta simples no SUS demora muito. O sistema é
mais difícil ter tratamento.
E a situação do ex-vice era extremamente complicada.
Se ele fosse fazer todas essas cirurgias pagando como particular, não haveria
dinheiro que chegasse. Ele devia ter um plano de saúde muito bom –
estudo de 2006. Mas um plano tão bom
saúde há algum tempo. Perguntei a ele quanto custaria um plano de saúde que cobrisse
internações no Einstein e no Sírio-Libanês para procedimentos tão complexos quanto
esses pelos
quais o ex-vice precisou passar nos últimos anos.
Resposta: na idade dele (79 anos), para essa cobertura, custaria nada menos do que
R$ 2,2 mil por mês, nas principais empresas do ramo no Brasil. Mas elas não costumam
aceitar clientes novos depois de certa idade. Geralmente os pacientes que pagam
tudo isso
já tinham o plano há tempos.
Lembre que planos de saúde são feitos para serem pouco usados. Quando o são, o
cliente sadio paga pelo cliente doente. Aos 34 anos, por exemplo, eu pago mais de
R$ 200,
mas dificilmente tenho consultas mais de uma vez ao mês. E geralmente consultas
“light”:
otorrino, nutricionista, um eventual check-up. Na teoria, acaba sendo uma espécie de poupança:
hoje você paga mais do que usa para depois usar mais do que paga, se precisar.
Mesmo quando precisa, enfrenta problemas. Alguns hospitais pararam de atender
pacientes de planos de saúde em suas emergências,
ao Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
Geralmente é você quem paga
Por ter sido senador entre 1999 e 2002, Alencar tinha direito a um plano de saúde
– inclusive
os que serviram por apenas meses – têm direito a esse benefício,
sequer por isso. Ex-deputados, por
um plano semelhante, pagam R$ 280 mensais. Pouco mais do que eu pago pelo meu.
Por serem velhinhos, muitas vezes eles precisam usar esse tipo de plano para coisas caras: no ano passado, o senador Romeu Tuma recebeu um coração artificial de
R$ 300 mil no
dia 7 de outubro para morrer 19 dias depois. Duvido que tenham lavado o aparelho
para
implantá-lo em outro paciente com mais chance de viver.
Saíam dos cofres públicos para a cobertura de nossas ex-autoridades, em 2009,
o equivalente a R$ 32 mil por senador, todo ano. Isso dá R$ 2.666 por mês, pago por
mim, por você
e por nossos pais. Fecha mais ou menos com o valor que o corretor me informou.
Não acho injusto que nossos representantes tenham um bom plano de saúde. Acho complicado apenas que eles, que ganham bem e por vezes são empresários, não
precisem pôr a mão no bolso sequer para pagar um pedaço do plano.
De qualquer forma, quem tem a atribuição de alocar recursos para o sistema público
de saúde passa MUITO longe dele. E isso é sempre chato.
Meus respeitos à família do José Alencar. Meus respeitos aos seus fãs. Mas
façam-me o favor de não exaltar exemplos que não possam ser seguidos por
qualquer um que não seja poderoso. OK, é fundamental um velhinho ter vontade
responsável pelo blog e reportagens do projeto “Tome Conta do Brasil”, da MTV.
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